• Secretario Dutra discursa no Forum de Autoridades Locais em Portugal
  • Amazonino concede entrevista durante a sua participação na COP-15
  • Amazonino Mendes ao lado do Secretário de Meio Ambiente da cidade de São Paulo, Eduardo Jorge e do Prefeito de Taipei

Nem direita, nem esquerda, muito pelo contrário!*

Rotular e engessar o conceito da sustentabilidade é um desserviço à busca pelo desenvolvimento sustentável

Por Reinaldo Canto**


Não tem sido incomum, ao participar de encontros, debates e palestras, ao escrever artigos e até mesmo em conversas informais, ser questionado sobre este ou aquele posicionamento em prol da sustentabilidade com a visão tradicional da política construída ao longo dos últimos dois séculos. Dependendo do ponto de vista do observador, a sustentabilidade tem sido taxada de direitista e reacionária ou de esquedista e socializante.

Vale lembrar qual a definição para sustentabilidade consagrada no relatório Bruntland, intitulado Nosso Futuro Comum de 1987, “a capacidade das gerações atuais suprirem as suas necessidades, sem comprometer a capacidade das futuras gerações fazerem o mesmo”. Ela é até bastante simples na sua concepção, mas também muito complexa na sua aplicação.Ter a noção de que precisamos pensar no futuro da humanidade é algo, tão óbvio e ululante como afirmaria o dramaturgo Nelson Rodrigues, que sua compreensão não escapa ao raciocínio de crianças em tenra idade.

Mas o que é ainda mais facilmente observável é a total miopia que impera quando se discutem ações efetivas para colocar tal conceito em prática. Os obstáculos vão da prevalência dos interesses individuais sobre os coletivos quando nos referimos a postura das pessoas e das empresas, até chegarmos à priorização nefasta de governos e nações dos interesses regionais e nacionais sobre os problemas do planeta que afetam a todos indistintamente.

Resumindo: é o famoso cada um no seu quadrado!
Ai se argumentamos contrariamente a tais posturas, apelando para a redução do consumismo e da exploração irracional dos recursos naturais; por medidas de combate ao desmatamento e ao aquecimento global, entre algumas das principais bandeiras do movimento ambiental, surgem os rótulos usados indistintamente pelos ideólogos da direita e da esquerda.

Para o mesmo tema, só para ficar num exemplo, o do consumismo, a direita afirma ser uma reação socialista e anticapitalista. Já para a esquerda constitui-se em típica ação elitista contra os direitos do povo de consumir e conquistar empregos. Como se o consumo excessivo e insano pudesse ser visto com bons olhos no longo prazo. As trocas alucinadas de carro, celulares e televisores, a compra de objetos e quinquilharias pouco ou nada úteis, com enormes desperdícios de materiais e matérias-primas que, com certeza deverão fazer falta em breve, são vistos como positivos por muita gente.

Visão global

Sustentabilidade não deve e não pode estar a serviço de quaisquer das visões hegemônicas da política e da economia do Século XX. Crescimento dissociado do desenvolvimento sustentável é um perigo e um retrocesso. Priorizar o atendimento das necessidades de uma cidade, de um país ou de uma região, desvinculado de uma visão global, é um mergulho no escuro com consequências desconhecidas e certamente trágicas para todos os habitantes do planeta.

Código Florestal

Um dos casos mais interessantes e emblemáticos dessa polarização e demonização é o do atual debate sobre o Código Florestal, o polêmico projeto do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB – SP). A aprovação das alterações no Código é defendida igualmente pelo Partido Comunista do Brasil e por setores majoritários do agronegócio nacional.

Do lado oposto, os ambientalistas também consideram a necessidade de atualização do código, vigente desde 1965, mas não aceitam diversos artigos do projeto, pois avaliam que será um estímulo ao desmatamento, ao aumento da ocupação e contaminação dos rios, além de garantir a anistia daqueles que burlaram a lei e cometeram crimes ambientais.

Quem acompanha as calorosas discussões já deve ter notado a farta e raivosa classificação com que ambos os lados rotulam os adversários. Claro, que como alguém que defende a causa da sustentabilidade, não concordo com diversos itens da nova proposta do deputado Rebelo, mas considero um desserviço colocarmos um lado como representante do bem e outro do mal. Quando essa polaridade surge em qualquer tipo de debate, político, social, econômico, futebolístico ou que mais for, o diálogo já está sepultado.
Afinal, não existe diálogo se do outro lado está um inimigo que só deseja o mal e a destruição. Ponto final!

Se taxarmos o projeto do deputado Rebelo de apenas estar a serviço do agronegócio, do latifúndio e dos destruidores das florestas e da biodiversidade de nosso país, estaremos apenas enxergando o demônio.
Por outro lado, como ocorreu recentemente comigo, ser acusado por integrantes do PCdoB de representar os interesses de multinacionais e governos estrangeiros que não querem o desenvolvimento do Brasil, aí teremos o surgimento de outro capeta.

Felizmente, nesse caso específico, do Código Florestal, ambos os demônios estão sentando para conversar. As bancadas, ruralista e ambientalista, estão negociando um acordo no Congresso Nacional sob a mediação dos Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura para que se chegue a um denominador comum e que o bom senso prevaleça.

O importante nesse caso e nos muitos outros com os quais iremos nos defrontar num futuro imediato é, como Walter Franco disse em música nos anos 80, “manter a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranquilo”. E, acrescentando: não nos esqueçamos de ter um olhar no horizonte e no futuro dos nossos filhos! FORA SATANÁS!!!

*Quero deixar claro que o título deste artigo não está plagiando a declaração do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab quando definiu o seu novo partido PSD. A ideia central é bem distinta!

**Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunicação do Greenpeace e coordenador de comunicação do Instituto Akatu. É colunista de Carta Capital e colaborador da Envolverde.

Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/nem-direita-nem-esquerda-muito-pelo-contrario

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(Envolverde/Carta Capital)
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AÇÕES DEVEM SER MANTIDAS APÓS A COP-15

Fracasso de Copenhague só servirá para redobrar nossos esforços

Por Marcelo Dutra*

Assistimos com perplexidade o fraco resultado da COP-15, isso após as intensas discussões que vinham ocorrendo há muitos meses e que foram intensificadas nas duas semanas de realização da conferência na Dinamarca. Não chegamos ao acordo “corajoso, ambicioso e com força de lei”, tal qual se ouvia por todos os cantos e representava o desejo da maioria presente ao Bella Center, palco central da convenção.

A falta de avanços concretos e, sobretudo a indefinição quanto a participação efetiva dos governos locais no âmbito dos processos decisórios no acordo climático, nos deixa mais apreensivos, principalmente quando se considera que é nas cidades, comunidades e rincões, como a pequena ilha de Tuvalu ou o isolado município do Manaquiri (AM), que os primeiros impactos do aquecimento global transforma moradores tradicionais em vítimas.

Mas independente desse encerramento pífio, engendrado principalmente pelos países desenvolvidos, já tínhamos consciência que o caminho ainda seria longo e que Copenhague representaria apenas mais uma etapa.

O trabalho de participação e valorização dos governos locais no âmbito das discussões sobre o presente e o futuro do bioma Amazônia foi iniciado há vários meses pela Prefeitura de Manaus por meio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade, a SEMMAS. O pioneirismo que foi empreendido na convocação da primeira Cúpula Amazônica de Governos Locais, atendida de pronto pelos nossos municipalistas da grande Amazônia internacional e os inúmeros países visitados, as diversas reuniões e encontros com dirigentes locais de todo o mundo, trouxeram importantes conquistas para Manaus e para a Amazônia.

Não foi por outra razão, que o Prefeito Amazonino Mendes esteve em Copenhague, não só representando a população da nossa cidade, mas também falando por todas as cidades da América Latina e Caribe afiliadas a CGLU (Cidades e Governos Locais Unidos). A voz da nossa região pode ser ouvida por todos os países do mundo e terá de ser assim daqui em diante.

Será impensável não levar em conta, em qualquer projeto que envolva a Amazônia, as pessoas que residem nas cidades da região. Também não fará mais sentido pensar o bioma amazônico sem considerar a sua dimensão e presença nos 9 países da América do Sul. Qualquer ação proposta para a Amazônia deve ultrapassar as fronteiras nacionais e ser pensado como um todo.

Estamos muito conscientes dos desafios que teremos pela frente nessa etapa pós-Copenhague. São desafios que envolvem a busca por novas parcerias, a consolidação das já existentes e um olhar cada vez mais atento aos anseios da população de nossa cidade. Manaus, capital da Amazônia aumenta sua responsabilidade com a COP16, que na Cidade do México, no final de 2010, tem a responsabilidade de não trocar a fama pela vergonha, como vimos acontecer na COP15.

E aos pessimistas de plantão, deixo aqui um recado: É preciso destacar que o grande mérito e legado que Copenhague nos deixou, não é a mesquinhez dos que estavam mais preocupados em saber quem iria pagar a conta para mitigar os altos custos que certamente as mudanças climáticas vão trazer. Copenhague deverá ser lembrada como a etapa em que, definitivamente, sustentabilidade e meio ambiente deixaram de ser assuntos apenas para ambientalistas militantes, mas passaram a ser temas que fazem parte da agenda mundial e que interessa a todos os habitantes em qualquer canto do planeta.

* Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus
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Carta do ICLEI critica falta de acordo em Copenhague

A insatisfação geral com relação aos resultados da COP-15 também geraram reações dos governos locais reunidos no ICLEI, Governos Locais pela Sustentabilidade.

A declaração da entidade destaca a importância das ações conjuntas dos governos locais em prol da sustentabilidade do planeta. A declaração foi direcionada aos chefes de estado e de governos, em resposta a retirada, durante as negociações da COP 15, as referências sobre a importância da ação local dos textos de negociações.

Há mais de 15 anos, o ICLEI vem trabalhando em soluções, metodologias e ferramentas de apoio à gestão local em sua busca pela sustentabilidade e para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Segundo a declaração, com ou sem acordo em Copenhague, a entidade continuará a buscar os caminhos necessários para que os governos locais possam de fato alcançar resultados significativos de redução das emissões de gases de efeito estufa e de adaptação aos impactos das mudanças climáticas, sejam eles governos concentrados em áreas urbanas ou rurais, sejam eles governos da Região Sudeste ou Norte do país, explica Florence Karine Laloë, gerente de Projetos de Mudanças Climáticas do ICLEI-LACS, Secretariado para América Latina e Caribe.


Veja a Declaração, na íntegra:

DECLARAÇÃO DE PREFEITOS E GOVERNOS LOCAIS SOBRE O FRACASSO DA COMUNIDADE INTERNACIONAL PARA A AÇÃO CONTRA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS



Por que os governos nacionais estão falhando onde os governos locais e sub-nacionais têm sucedido, há muito? Se a comunidade internacional tivesse seguido a orientação dos governos locais na busca e na implementação de ambiciosas soluções climáticas, estaríamos bem em nosso caminho para solucionar este desafio. Ao contrário, nos encontramos em Copenhague à beira de deixar pessoas de todos os cantos do planeta perplexas.



Há não apenas dias, mas anos, pedimos para nos juntar a vocês, líderes mundiais, nesta discussão. Desde a Conferência Rio 92, temos estado ao lado das nações, com inesgotável esperança e profunda crença que as nações encontrassem uma base para um acordo que realmente enfrentasse as mudanças climáticas. Nós confiamos em vocês. Porém, 17 anos se passaram, com muito pouco progresso. Diferentemente dos recentes encontros internacionais sobre o clima, nossas esperanças e ansiedades eram grandes ao nos dirigirmos a Copenhague este mês. Apesar das manchetes castigando tanto os maiores emissores do mundo quanto as lideranças internacionais pela sua incapacidade de chegar a um acordo, nós realmente tínhamos esperança.



Como representantes eleitos, sabemos do poder e do potencial dos corajosos compromissos e da colaboração visionária. São, ambos, necessários em Copenhague, ainda que tenham sido deixados de lado aqui na COP15. Nos oferecemos para nos sentar à mesa com vocês, líderes, e ajudar neste processo. Pedimos para ser envolvidos, cada vez mais insistentemente, representados por um coro de prefeitos e líderes locais e subnacionais, de todo o mundo, representando todos os maiores emissores de países em desenvolvimento e de países desenvolvidos.



Como os representantes locais eleitos, nós valoramos profundamente as obrigações que nossa função pública nos impõe. Por este motivo, não podemos retornar para nossas casas sem ter chegado a Copenhague e ter entregue a mensagem que queremos que vocês ouçam. É nossa exigência que os líderes mundiais, Chefes de Estado e das Nações Unidas se comprometam com um resultado de efeitos práticos aqui em Copenhague. Se não vinculativo, que seja operacional e que seja definida uma data dentro de seis meses para que este compromisso seja traduzido em uma linguagem obrigatória e comum a todos. Que comprometa o mundo para a redução das emissões de forma rápida e drástica, para evitar que cruzemos os limites de uma perturbação climática perigosa. É preciso abrir caminhos limpos para eliminar a pobreza em nações em desenvolvimento. É preciso iniciar uma revolução para a energia limpa que transforme e revitalize nossas economias. É preciso oferecer soluções tão grandes quanto o problema.



Não subestime nossa voz, nossa vontade e poder de agir e nossa capacidade de mobilização. Somos centenas de líderes locais no mundo, apoiados por milhares de pessoas que, há muito, têm demandado ação. Estamos aqui para trabalhar junto a vocês, líderes mundiais. Deixe-nos ser um recurso para vocês. Estamos aqui para ajudá-los, como as outras partes interessadas que se juntaram para definir números históricos aqui em Copenhague. Nós entendemos os riscos políticos e financeiros que alimentam nossas incertezas, mas nossas experiências, em primeira mão, são as provas que dissiparão estes temores.



As apostas são altas demais para estarem limitadas por um processo antiquado que silencia as vozes de milhões. Tenham-nos como parceiros, deem-nos um lugar nesta mesa de negociações e deixem-nos compartilhar esta responsabilidade.



Estamos aqui para vocês, líderes mundiais, e temos esperança que vocês exercerão esta liderança. Os governos locais e sub-nacionais não devem ser subestimados. Muitas vezes vistos como pequenos atores, pela comunidade internacional, na questão do clima, nossa liderança e ações podem mostrar aos Chefes de Estado como fazê-lo, e como fazê-lo agora. Queremos que vocês ouçam nossa voz e nos tragam de volta à mesa de negociações.



Estamos prontos. Aceitamos nossas responsabilidades para implementar o seu acordo. Torná-lo um verdadeiro negócio, de soluções reais, e vocês mobilizarão o mundo para torná-lo real. Terminem esta tarefa para que todos possamos começar a trabalhar, juntos, na verdadeira tarefa que está por vir.



ICLEI - Governos Locais pela Sustentabilidade
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COP15: entidades brasileiras divulgam alerta sobre Redd

Na quarta-feira (16/12), entidades da sociedade civil e movimentos sociais divulgaram carta em que questionam os rumos do programa de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd).

"Vemos com muita preocupação a tendência à inclusão do mercado na agenda das negociações de Redd", aponta o texto, subscrito por 14 entidades.

Leia abaixo o documento.

ALERTA SOBRE REDD NA COP 15

As negociações sobre Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd) começam a caminhar para definições que poderão ter grandes repercussões sobre a vida das populações tradicionais que vivem nas florestas no Brasil e em outros países. No caso do Brasil, as negociações sobre Redd são cruciais já que grande parte das emissões do país é proveniente do desmatamento.

Vemos com muita preocupação a tendência à inclusão do mercado na agenda das negociações de Redd. Para serem efetivas no combate aos desmatamentos e para contribuírem para o reconhecimento dos direitos das populações tradicionais, as negociações da COP15 devem estar ancoradas centralmente no debate sobre compromissos e financiamentos públicos e dos governos, em vez de se transferirem para a esfera privada, que já se revelou um fracasso para a vida no planeta.

É muito preocupante o risco de inclusão do princípio da compensação, mesmo que atrelado a pequenas cotas e a baixos percentuais. Tal princípio, se incluído, eximiria os países do Norte de assumirem suas responsabilidades pelas emissões históricas e de cumprirem compromissos de redução de emissões compatíveis com estas responsabilidades.

Somos também explicitamente contrários à inclusão dos níveis subnacionais entre os atores das negociações e financiamentos de Redd. O nível federal deve ser o agente negociador e receptor de fundos, sendo ele o responsável pela alocação dos recursos de acordo com as prioridades políticas nacionais.

Em outubro de 2009, 50 organizações e movimentos sociais brasileiros subscreveram a Carta de Belém, em que afirmaram a necessidade de políticas e fundos públicos, voluntários e abrangentes, que reconheçam a contribuição que as populações tradicionais têm a dar no sentido da preservação e uso sustentável das florestas, e da convivência entre produção e preservação. Afirmando que a questão fundiária e o reconhecimento jurídico dos territórios dos povos e comunidades tradicionais são o principal desafio a ser enfrentado para um combate efetivo aos desmatamentos, a Carta de Belém rechaça os mecanismos de mercado e de compensação nas negociações de Redd.

ANA - Articulação Nacional de Agroecologia
AMB - Articulação de Mulheres Brasileiras
Comissão Quilombola do Sapê do Norte - Espírito Santo
CUT - Central Única dos Trabalhadores
FASE - Solidariedade e Educação
FAOR - Fórum da Amazônia Oriental
INESC - Instituto de Estudos Sócio-Econômicos
Marcha Mundial das Mulheres
MAMA - Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia
MST - Movimento dos Sem Terra
REBRIP - Rede Brasileira Pela Integração dos Povos
Rede Brasileira de Justiça Ambiental
Rede Brasil Sobre Instituições Financeiras Multilaterais
Terra de Direitos




(Envolverde/Adital)
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ENTREVISTA: PREFEITO AMAZONINO MENDES


Reinaldo Canto, direto de Copenhague

Dois dias depois de chegar a Copenhague, o Prefeito Amazonino Mendes concedeu essa entrevista exclusiva falando de suas primeiras impressões e de seu papel como representante das cidades da América Latina e Caribe na Conferência do Clima.

Reinaldo Canto – Como o senhor vê o panorama atual de discussão das questões ambientais?

Amazonino Mendes – A gente sente que existe uma total convergência para a identificação do problema ambiental. A tal ponto que a presidente da COP-15 (Connie Hedegaard), dizer que “vamos sair daqui com fama ou com vergonha”, isso me marcou. O mundo cobra, existe uma cobrança geral e precisaremos procurar os caminhos para superar os problemas antagônicos.

RC – Como fazer isso?

Amazonino – Existem sérios entraves, eles não são simples dependem de situações que vão além do poder do governante. Esses entraves requerem competência, persuasão, vontade política e muita consciência dos sacrifícios que terão de ser feitos para a conquista desses objetivos.

RC – E esses problemas podem ser superados?

Amazonino – Já existem sinais. O Bush, por exemplo, passou ao largo dessa questão e a eleição do Obama já refletiu a consciência americana para o tema ambiental.

RC – Qual o seu papel aqui em Copenhague?

Amazonino – É o da presença de quem está num grupo. De quem faz o esforço de ser ouvido pela primeira vez e está na luta para criar as oportunidades e alcançar objetivos. Tenho aqui um papel duplo. O de ser prefeito de cidade e também da Amazônia. Darei minha colaboração tanto quanto for possível.

RC – Como foi esse trabalho até chegar aqui?

Amazonino – Começou com uma articulação positiva dos governos locais em Manaus. Envolvemos a FLACMA (Federação Latino-americana de Cidades, Municípios e Associações de Governos Locais), a CGLU (Cidades e Governos Locais Unidos) e agora também a ONU (Organização das Nações Unidas). Agora nosso objetivo é o empenho, a abertura para reivindicar os financiamentos na aplicação do REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação).

RC – Mas Manaus seria muito beneficiada com a adoção do REDD?

Amazonino - De forma indireta sim. Manaus é a cidade que mais oferece empregos na região e até mesmo empregos para estados vizinhos e isso gera diversos problemas na cidade. Em muitos casos, são pessoas pobres que precisam de meios para sobreviver e elas abandonam as áreas em que vivem, para viver mal na cidade em busca de trabalho. O REDD não serve apenas para manter a floresta em pé. O mecanismo servirá também para as populações da floresta ficarem em suas comunidades e terem saúde, educação, o direito de se deslocar...Não vai haver êxodo, se os projetos forem bem feitos o caboclo vai preferir viver na região dele, isso ajuda muito. Outra coisa, Manaus é um empório. As pessoas vêm do interior para comprar todo o tipo de produto, se elas receberem investimentos do REDD, isso vai beneficiar Manaus dessa maneira indireta da qual falei antes.

RC – Existem outras maneiras de se obter financiamento ambiental além das florestas?

Amazonino – Temos um projeto de manejo de resíduos. Vamos implantar uma usina que utiliza lixo para transformar biomassa em energia. Como nosso lixo é pobre, na verdade o lixo brasileiro é pobre, já temos um estudo em estágio adiantado de enriquecer a queima utilizando capim elefante para o ganho de escala utilizando esses dois insumos, lixo e capim para gerar energia. Esse projeto já está bem avançado e poderá obter financiamento, pois faz o seqüestro do carbono que deixa de ser emitido.

RC – Ainda existe muito desconhecimento sobre a Amazônia?

Amazonino – Com certeza. Muita gente pensa que a Amazônia é homogênea. Existem diferenças entre os biomas, contrastes enormes. Temos na região o maior pico do país, várias savanas. De um lado temos terras ruins para plantar e, de outro, ali na região dos estados do Amazonas, Rondônia, Pará e Mato Grosso tem as melhores terras para plantio do Brasil e acredito que do mundo. E o Brasil legisla de maneira homogênea sem considerar essas diferenças. É bom lembrar que o Amazonas ainda possui 98% de sua área de floresta intacta e ela ainda é muito desconhecida.

RC – O senhor se refere a própria floresta?

Amazonino – Há um desconhecimento absoluto. É imperiosa a necessidade de se criar a Universidade do Trópico Úmido e que ela seja financiada pelos países ricos e administrada pelos países amazônicos. Quando o REDD for adotado vai se preservar algo que não se conhece. Que se estude esse patrimônio. Quem sabe ali não podem ser descobertas drogas, princípios ativos que podem beneficiar o mundo todo.
Sem falar numa preocupação que tenho há anos: a fauna ictiológica (estudo dos peixes). O equilíbrio dos rios, de tudo. Nada foi feito. A pesca predatória, pouco se fala, mas as perdas são maiores até do que a da floresta amazônica.

RC – O senhor tem uma preocupação especial com o caboclo amazonense, por que?

Amazonino - Porque até hoje ele padeceu muito nas questões ambientais. Ele nunca foi levado em conta. Ele não é branco e não é índio, é uma mistura dos dois e uma benção da Amazônia. Ele povoa a região e tem espírito de conservação. Mesmo assim ele sofre por imposição de leis abruptas, que de repente, o proíbe de pescar, sem estudo prévio. A legislação sempre foi muito rigorosa com o caboclo, sem ouvi-lo. Isso precisa mudar.
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PREFEITO AMAZONINO REPRESENTA MANAUS E GOVERNOS LOCAIS DA REGIÃO NA COP-15



Amazonino Mendes ao lado do Secretário de Meio Ambiente da cidade de São Paulo, Eduardo Jorge e do Prefeito de Taipei

Reinaldo Canto, direto de Copenhague

O Prefeito de Manaus, Amazonino Mendes já cumpriu diversos compromissos em Copenhague, durante a realização da COP-15. Esse que já é considerado o mais importante encontro ambiental do novo século e que discute medidas de combate às mudanças climáticas.

Amazonino assumiu grandes responsabilidades nessa viagem, pois está incumbido de levar a mensagem de Manaus e da Amazônia ao mundo e liderar as cidades da América Latina e Caribe no âmbito da CGLU (Cidades e Governos Locais Unidos) para que os governos locais alcancem maior representatividade no cenário internacional.
Entre os principais compromissos do prefeito esteve a visita, nesta quarta a City Hall, ou seja, a Prefeitura de Copenhague. No local o prefeito Amazonino participou de um encontro exclusivo que reuniu 78 prefeituras das cidades, consideradas relevantes por Copenhague. Do Brasil, além de Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo enviaram representantes. Mas o único prefeito brasileiro que compareceu ao evento foi Amazonino Mendes. Importantes cidades participaram do evento denominado Cúpula dos Prefeitos pelo Clima, tais como, Tóquio, Barcelona, Nova York, Cairo, Buenos Aires e Hong Kong, entre outras.

O comunicado climático de Copenhague enfatiza que os governos nacionais devem se unir as cidades na luta contra o aquecimento global. Segundo o documento oficial da cúpula as cidades do mundo representam mais da metade da população mundial e muitos dos problemas e das soluções passam pelos cidadãos dessas cidades e de suas respectivas autoridades locais.

Participação no evento principal da COP-15

Das 78 prefeituras que participaram do evento da manhã, 40 foram selecionadas para o evento da tarde que abriu a Plenária de Autoridades de Alto Nível no auditório principal do Bella Center, cenário oficial da COP-15. Manaus estava entre as cidades incluídas na cerimônia.

Durante a cerimônia, Amazonino Mendes ficou particularmente impressionado com uma colocação da Presidente da Conferência Climática, Connie Hedegaard que enfatizou em seu discurso, “vamos sair daqui com fama ou com vergonha”. Para o prefeito da capital amazonense essa afirmação está em sintonia com a convergência de posições em torno da questão ambiental e do atual momento de pressão, “há uma cobrança geral que vai precisar de uma resposta satisfatória”. Em relação aos problemas pelos quais o processo de negociação está enfrentando em Copenhague, Amazonino lembrou que, “existem sérios entraves, que não são nada simples de serem solucionados e muitas vezes vão além do poder do governante”, e concluiu, “é necessário competência, persuasão, vontade política e muita consciência dos sacrifícios que terão de ser feitos para a conquista desses objetivos”.

Nos próximos dias Amazonino terá a oportunidade de colocar em prática alguns dos atributos citados por ele mesmo, pois vai desempenhar um duplo e difícil papel: o de prefeito de Manaus e também o de prefeito da Amazônia. Para ele, Copenhague é apenas mais um passo do trabalho que vem sendo desenvolvido de articulação positiva que começou em Manaus e com o tempo passou a envolver diversas organizações multilaterais importantes como a já citada CGLU, a FLACMA (Federação Latinoamericana de Cidades, Municípios e Associações de Governos Locais) até chegar a própria ONU (Organização das Nações Unidas). “Agora farei todo o possível aqui em Copenhague, para reivindicar a inclusão da Amazônia nos mecanismos de aplicação do REDD (sigla para Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação)”.
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MANAUS PREPARA WORKSHOP EM COOPERAÇÃO COM UNIVERSIDADE SUECA

Reinaldo Canto, direto de Copenhague

Aproveitando a participação na COP-15, em Copenhague, a delegação de Manaus aproveitou para fazer uma visita ao Blekinge Institute of Technology (BTH), Universidade sueca, situada na cidade de Malmo, na fronteira com a Dinamarca.

Sobre a liderança do Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus, Marcelo Dutra e pelo professor Henrique dos Santos Pereira, coordenador do Centro de Ciências do Ambiente da Universidade Federal do Amazonas. Na ocasião, foi firmado, além da troca de professores e estudantes entre as duas universidades, a possível definição de projetos práticos para a preparação de Manaus como sede da Copa do Mundo de 2014, usando a experiência combinada das duas universidades. Ficou acertado que a UFAM e o BTH irão captar recursos para a realização de um workshop em Manaus, para na oportunidade, junto com a prefeitura de Manaus, preparar proposta para os projetos de pesquisa aplicada, em temas de interesse da municipalidade, visando a Copa do Mundo e um plano de ação para a sustentabilidade de Manaus, como espaço urbano e administração pública. Uma oportunidade a ser explorada será a parceria com indústrias instaladas no PIM (Pólo Industrial de Manaus).

O Centro de Ciências do Ambiente da UFAM já tem um termo de cooperação técnica com a BTH que é a mais prestigiada Universidade da Suécia em especialização na área de Sustentabilidade (aplicação dos conceitos de sustentabilidade a produtos, processos e gestão pública).

O termo de cooperação foi assinado em 2008 entre as duas instituições educativas. Na época foi assinado um memorando de cooperação para o desenvolvimento de atividades de cooperação científica e acadêmica. Desta forma, professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia do Centro de Ciências do Ambiente da UFAM e do Programa de Lideranças para a Sustentabilidade (Strategic Leadership toward Sustainability) do Blekinge Institute of Technology se propõem a desenvolver projetos conjuntos de pesquisa e intercâmbio, tendo como foco a sustentabilidade do espaço urbano e o desenvolvimento de estratégias de sustentabilidade para o interior do Estado.

A UFAM, por meio deste projeto, passou também a integrar o Real Change, um programa de cooperação internacional, interdisciplinar e intersetorial voltado para o desenvolvimento de teoria, metodologias e práticas estratégicas para a promoção de mudanças na sociedade, de forma a torná-la sustentável. Todos os projetos integrantes do programa seguem uma metodologia comum o “Framework for Strategic Sustainable Development” que constitui o “core” do programa, de forma a desenvolver, a partir de pesquisas científicas princípios básicos e práticas para o desenvolvimento sustentável.
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